O espírito Salustiano.
Manuel Salustiano Soares nasceu em Aliança (PE). Quando jovem, considerando que a cidade interiorana era pequena para a sua música, partiu para a “cidade grande” com apenas uma mochila e uma rabeca, na década de 60. Morou em diversos lugares de Olinda e Recife até achar no bairro de Cidade Tabajara um retiro para ele, seus 15 filhos e sua arte. Lá, tornou-se uma liderança comunitária.
Do seu passado na Zona da Mata, entre as plantações de cana-de-açúcar, descobriu na década de 90 a doença de chagas e faleceu no dia 31 de agosto de 2008, aos 62.
Antes de atingir seus sonhos, foi cortador de cana, gari e vendedor de picolé. Fora dos papéis, dava uma de arquiteto, pedreiro e tudo mais que a situação necessitava. Por onde passou deixou sua marca. Onde estacionou, reuniu pessoas para a perenidade da cultura do cavalo marinho, dança tradicional da Zona da Mata Norte de Pernambuco. A vontade de união foi uma das marcas que Salu deixou para a comunidade da Cidade Tabajara e seus filhos.
A Casa da Rabeca e outras sementes
Quem viu a Casa da Rabeca quando ainda era feita com palhas de coqueiros, não imaginava que se tornaria o importante centro cultural que é hoje. A ideia para a criação do retiro surgiu a partir de um encontro na Bahia, onde conheceu os pais de Carlinhos Brown (o produtor cinematográfico Renato Freitas e Madalena Santos). Trocaram anedotas e conversas. Logo depois, voltou ao Recife com a ideia de criar um espaço para dar oportunidade a artistas.
A Casa da Rabeca foi criada para acolher forrozeiros, emboladores de coco, violeiros, maracatus e cavalos marinhos… Mas, no início, os filhos eram contra. Ele tinha pouca saúde e viajava muito. Quando a gente questionava, respondia: ‘Você não sabe de nada, quem sabe sou eu’. Hoje a gente vê que ele sabia mesmo. Ele partiu e deixou tudo pronto. Pedro Salustiano sobre a criação da Casa da Rabeca.
As “crias” do mestre seguem melhorando o espaço físico e viajando o País difundindo a cultura do cavalo marinho e do Maracatu Piaba de Ouro, outra criação de Salu. É comum o oferecimento de oficinas de confecção de adereços. “Através de Salu, surgiram vários espaços e grupos de coco, ciranda, cavalo marinho e maracatu. Ele influenciou muita gente a criar seu próprio lugar; influenciou artistas como Siba. Foi ele quem fomentou”, conta Pedro.
Além da cultura propagada, Mestre Salu também é responsável pelo acesso da PE-15 para a Cidade Tabajara. Ele se reuniu com amigos e, com o auxílio de um caminhão, conseguiu estabelecer uma ligação com a rodovia estadual. Após o feito, a comunidade conseguiu ter mais mobilidade e visitação.
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