Entrou no botequim sem dar atenção ao falatório em volta, sem se importar com tanta gente para testemunhar seu descontrole, caminhou firme até a mesa onde ela estava com outro, um outro que ele parecia não conhecer, e bradou tão forte, tão forte, que o bar inteiro percebeu a gravidade da cena e silenciou:
- Toma! Isto é seu!
E derramou sobre a mesa um punhado de coisas, e a veemência de
seu gesto deixou adivinhar que eram relíquias de um amor desfeito. Um par de
brincos talvez esquecido no banheiro dele; um molho de chaves, quem sabe as da
casa dela; um papel de bala; um pote de creme; um pequeno saco plástico
transparente que permitia ver dentro dele uma calcinha vermelha; um isqueiro;
um batom; uma folha manuscrita amarrotada de caderno com uma repetição em
sequência de dois nomes, certamente o dele e o dela, um em vermelho, outro em
preto, Fulano e Cicrana, Fulano e Cicrana, Fulano, e Cicrana...
- Fique calmo... - ela pediu, embaraçada, enquanto o outro, a
seu lado, permanecia parado e sem reação.
O outro
não era o único paralisado. Só os dois se moviam no bar. Por um momento, o
botequim inteiro ficou congelado como num comercial de TV. Era como se um copo
estivesse prestes a se estilhaçar no chão, e não caísse, continuasse suspenso
no ar, em estado de cinema, sob efeito de uma câmera de alta definição.
Quase se ouvia o pulsar apressado dos corações de um e de outro, a respiração
arfante, o som do piscar dos olhos desesperados dele....
Até que um gol na TV reduziu o
fim do caso de amor deles à continuidade da vida, e o copo prestes a cair se
despedaçou no chão, e todos em volta retomaram o falatório, e nada mais ele
disse, e nada mais ela disse, e ele saiu sem olhar pra trás.
2 comentários:
Muito boa crônica, amigo! Parabéns pelo Blog!!!
Grande abraço.
Sua colega e amiga desde a infância,
Rosimar Melo.
Mto boa crônica, amigo!
Parabéns pelo blog, mto bom!
Um grande abraço da colega e sempre amiga,
Rosimar Melo.
P.s.: apareça na Ba com a família!
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