No Espaço Aberto dessa semana, Junior Pacífico de Paula mostra que números superlativos nos gastos com a educação efetivamente podem mudar a história de uma nação.
O tema pode ser recorrente, mas a abordagem feita pelo colunista é provocativa, a começar pelo título, " Hei de vencer, mesmo sendo professor".
Uma boa leitura a todos e um excelente fim de semana.
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Junior Pacifico de Paula Engenheiro - Empresário -Ambientalista |
HEI DE VENCER, MESMO SENDO UM PROFESSOR – 1
Esta frase acima foi cunhada décadas atrás, figurava em outdoors e adesivos nos veículos da época para demonstrar a indignação de uma classe que protestava contra a falta de respeito, de investimento e, principalmente, de políticas públicas que tratassem a educação como prioritária neste país.
Ao longo destes anos, tivemos algumas conquistas. O investimento em educação, que não chegava a 2% do PIB, hoje já representa 4%. O Brasil passou de 1 milhão de universitários em 1970 para 8 milhões em 2023. Temos mais de 500 faculdades neste país e, o mais importante, 30% de toda massa de estudantes universitários são oriundos das classes C e D. Graças à concorrência, o custo médio das mensalidades caiu pela metade em uma década.
Porém, temos muitas distorções, senão vejamos: a maior parte dos recursos públicos é investida nos cursos de nível superior, ao invés do ensino fundamental, médio e técnico. Por falta de fiscalização rigorosa, boa parte dos recursos enviados às prefeituras desaparece no ralo da corrupção. Consideramos como alfabetizados adultos que mal desenham o próprio nome. De norte a sul deste país, temos salas de aula em escolas que não oferecem o mínimo de conforto e segurança a alunos e professores. Na maioria das escolas públicas, a faixa etária dos alunos não corresponde ao ano que deveriam cursar. Falta merenda escolar. Mais de 50% dos professores declaram que já sofreram agressões físicas ou morais. A evasão e repetência são enormes.
A educação no Brasil tornou-se um grande negócio, tanto que vem atraindo cada vez mais o interesse e o investimento de grandes fundos internacionais, que já estão presentes na maioria dos grandes grupos educacionais do Brasil.
Os três maiores grupos educacionais já possuem individualmente mais de 500.000 estudantes e faturam cada um mais de 1 bilhão de reais por ano. Cumpre destacar que o maior deles, o grupo KROTON, que com a compra da ANHANGUERA,
passou a ter mais de 1 milhão de alunos e tornou-se o maior grupo de ensino superior do mundo, com faturamento de um bilhão de dólares por ano.
Assim sendo, nossos dirigentes precisam ouvir a sociedade, principalmente os professores e os alunos. É crucial traçar e definir prioridades e planos de ação para investir melhor no único setor que liberta o cidadão, que é a educação.
Para que investir tanto em universidades públicas, se a grande maioria dos alunos vem das classes A e B e estudaram em excelentes escolas privadas?
Programas como o FIES, PROUNI e o crédito educativo inseriram nas escolas de ensino superior privado apenas 10% das vagas.
Nesse sentido, é difícil entender como um preso no sistema carcerário pode custar aos cofres públicos R$ 2.400,00 e um aluno da rede pública apenas R$ 700,00 por mês.
Dessa forma, precisamos nos espelhar na Coreia do Sul, onde a educação é algo extremamente relevante e custa 8% do PIB anual. Lá, o profissional mais admirado pela população é o professor. Vejamos alguns exemplos comparativos:
Nos anos 70, o Brasil e a Coreia do Sul tinham o mesmo número de analfabetos adultos, cerca de 40% da população. É notável que o Brasil melhorou bastante; hoje temos 7% de analfabetos adultos. No entanto, a Coreia do Sul tem 98% dos jovens de 17 a 20 anos nas universidades, um índice sem paralelos no mundo.
Há duas décadas, o Brasil e a Coreia do Sul patenteavam nos Estados Unidos cerca de vinte a trinta patentes industriais ao ano. Hoje, o Brasil patenteia algo em torno de oitenta patentes por ano, enquanto a Coreia do Sul patenteia mais de 3.000.
A Coreia do Sul gasta por aluno matriculado em escolas públicas oito vezes mais que o Brasil e tem hoje o melhor ensino do planeta.
Portanto, como conceber que um país que se diz a nona potência econômica do mundo tenha um dos piores índices educacionais da América Latina?
É difícil para um país que elege para o Congresso Nacional diversos parlamentares analfabetos, um país em que a sociedade não lê, em que as empresas não investem em pesquisas, onde nos encontros das classes trabalhadoras se discutem questões como o capitalismo selvagem e os ideais de Marx e Lenin, ao invés de se falar em eficiência, produtividade, relações de trabalho e em educação. Não nos sobra tempo para falarmos em educação; não sejamos hipócritas. É muito fácil nos colocarmos como vítimas e tentarmos cobrir o sol com uma peneira, porém vejamos o que todos nós estamos fazendo pela educação neste país.
O Brasil precisa de uma revolução, uma revolução das letras, do estudo, da educação. Só assim seremos uma nação mais justa, digna e independente.