Apesar dos governos federal e estadual falarem em recuperação de quase uma centena de bilhões de reais, o problema econômico maior é que a maioria dos prejuízos com as inundações terá que ser arcado pelas pessoas diretamente. Isso porque a maior parte das pessoas afetadas nas enchentes não têm condições de pagar seguros e as obras públicas não incluem a recuperação das residências e dos bens móveis perdidos.
Estima-se que no Brasil, apenas 30% da frota nacional de veículos possui cobertura. No setor de seguros de residências, o Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com maior percentual de casas com seguro. De todas as residências gaúchas, 38% delas possuem seguros.
Em São Paulo, por exemplo, esse índice é de 29%. Mesmo assim, como dito anteriormente, a grande maioria das apólices não cobre eventos como inundações.
Aquecimento global encarecerá seguros?
Outro debate no setor agora é se as enchentes no Rio Grande do Sul mudarão o setor de seguros no Brasil.
Contratar um seguro vai ficar mais caro para os clientes — depois de um evento tão grande no país? As mudanças climáticas — que tornam eventos extremos mais comuns — vão encarecer as apólices?
Roberto Santos, da Confederação Nacional das Seguradoras, diz que as apólices não vão ficar mais caras especificamente por causa do evento do Rio Grande do Sul — mas ele diz que seguros já vêm encarecendo nos últimos anos por causa do aquecimento global e de eventos extremos mais comuns.
Essa tendência deve seguir nos próximos anos. Segundo dados da CNseg, em 2022 foram pagos R$ 10,5 bilhões em seguros rurais — um crescimento de 47% em relação ao ano anterior. O maior problema para a safra de grãos foram eventos climáticos extremos, como secas ou excesso de chuvas.
O encarecimento dos seguros por causa das mudanças climáticas é um problema global.
Nos Estados Unidos, duas grandes seguradoras — a AllState e a State Farm — pararam de oferecer seguros para novas residências na Califórnia, devido a grandes prejuízos que elas tiveram com incêndios florestais. O mesmo aconteceu com dezenas de seguradoras na Flórida, Estado americano que enfrenta todo ano uma temporada de furacões.
Roberto Santos, da CNseg, não acredita que este cenário possa acontecer no Brasil. Mas o país enfrenta problemas próprios — como o alto número de pessoas que vivem em áreas de risco. O governo federal está elaborando um novo Plano Nacional Sobre Mudança do Clima para lidar com esse problema.
O próprio setor de seguros propõe um seguro social — com cobrança nas contas de luz — para pagar cerca de R$ 15 mil a famílias de baixa renda que fiquem desabrigadas por causa de tragédias climáticas.
Mas essas discussões ainda estão em andamento.
Por ora, um dos efeitos mais imediatos da quantidade de eventos climáticos extremos é o aumento na procura por seguros. Há dez anos, o setor de seguros representava 1% da economia brasileira — hoje ele representa 6%.
Com a frequência maior de grandes enchentes no Brasil, cresceram também os grandes prejuízos e os custos de se proteger deles.
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