Enquanto Lula gasta saliva e dinheiro público em propaganda para vender que, graças a ele, o País saiu do Mapa da Fome, milhões de brasileiros ainda vivem sem a mínima dignidade
O Brasil saiu oficialmente do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). E o presidente Lula da Silva, como era previsível, transformou esse dado em peça de propaganda sem nem tentar disfarçar o viés eleitoreiro.
O que, na realidade, significa essa mudança de status do País no triênio 2022-2024?
A resposta honesta é uma só: um mero alívio estatístico que nem remotamente apaga a cruel realidade de milhões de brasileiros que ainda vivem em situação de insegurança alimentar, ou seja, sem acesso regular a alimentos – e, ademais, a condições mínimas para uma vida digna, como água tratada e esgotamento sanitário.
A propaganda ufanista do Palácio do Planalto, veiculada em horário nobre na TV, diz mais sobre a desfaçatez de Lula de manipular a realidade em nome de suas pretensões eleitorais do que sobre as supostas conquistas de seu governo no combate à fome e à miséria.
De fato, no triênio, o Brasil registrou menos de 2,5% da sua população em condição de subnutrição ou de falta de acesso a alimentação suficiente, indicador da FAO para determinar se um país está ou não no Mapa da Fome.
Entretanto, segundo a mesma organização, há cerca de 7 milhões de brasileiros (3,4% da população) em situação de insegurança alimentar “severa” – falta de capacidade para consumo de três refeições por dia – e outros 28,5 milhões (13,5%) convivendo com insegurança alimentar “moderada” ou “grave” – o que significa, respectivamente, incerteza quanto à capacidade para obter alimentos no futuro e o convívio com a fome em algum período do ano.
Como se vê, não há o que celebrar. Qualquer festejo a despeito dessa renitente indignidade soa como uma ode à miséria crônica a que está submetida uma parcela expressiva de brasileiros – para não dizer como falta de vergonha na cara.
Para piorar, Lula padece de amnésia seletiva. O presidente da República, convenientemente, esquece de mencionar na milionária propaganda do governo que o afundamento do País no buraco do Mapa da Fome foi a profunda recessão causada pela crise na era da Sra. Dilma Rousseff quando esteve na Presidência. Ademais, ficou implícito na peça governista que o País só saiu do Mapa da Fome porque o petista derrotou Jair Bolsonaro na eleição de 2022. Em primeiro lugar, a melhora dos indicadores de uma administração para outra foi observada à margem de um estabelecimento pela própria FAO. Em segundo lugar, é de justiça reconhecer que a pandemia, ocorrida no governo Bolsonaro, provocou aumentos nos níveis de pobreza e fome não só no Brasil, como no mundo inteiro.
Portanto, quando atribui a “conquista”, chamemos assim, exclusivamente a seu plano “Brasil Sem Fome”, Lula disfarça um problema que nem de longe foi resolvido – malgrado o PT ter governado o País por 16 anos nas últimas duas décadas. Estar no Mapa da Fome é vergonhoso. Mas simplesmente não estar nele não reflete a complexidade da miríade de dificuldades por que passam milhões de brasileiros dia sim, outro também. Não há dinheiro nem marqueteiro que deem conta de manipular essa verdade factual aos olhos de quem não foi cegado pela idolatria ao demiurgo petista.
Aquela peça de propaganda eleitoral antecipada tinha o único objetivo de promover a imagem pessoal de Lula e de seu governo. Mais grave, porém, é o fato de que o presidente dá sinais inequívocos de que não está mesmo um pouco interessado na construção de um ambiente macroeconômico que estimule o crescimento real do País e, consequentemente, a geração de emprego e de melhores parâmetros brasileiros – a única saída sustentável para o problema da fome, pois alimentos há de sobra.
Tratar a insegurança alimentar como uma oportunidade de autopromoção é coisa de governo indecente. E não há mais indigno quando a empulhação é patrocinada por um governo que alardeia seu suposto compromisso com a justiça social. O País está longe de resolver seus problemas estruturais, e o combate à fome passa necessariamente por investimentos contínuos em educação básica, saúde, habitação e saneamento. Tirar o Brasil do Mapa da Fome, no papel, não é o mesmo que garantir que nenhum brasileiro – nenhum – jamais volte a se angustiar sem saber quando será sua próxima refeição.
Fonte: Crônica do editorial do Estadão de Domingo
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