Os partidos políticos e seus candidatos resolveram deixar de lado a Carta Magna e se adaptar à selvageria eleitoral
A cada dois anos se repete um ritual nada republicano — muito menos em um País laico. Candidatos vão visitar líderes evangélicos em busca de votos. Visitar, não é o problema. É até um gesto de civilidade. Contudo, o objetivo é de cabalar apoio no velho sistema do voto de cabresto, como se estivéssemos no túnel do tempo rumo à República Velha. O “rebanho” estaria pronto a votar no que for indicado pelo pastor, sem refletir, questionar ou conhecer o que o candidato pretende realizar.
A República brasileira é laica desde a sua fundação. (…)Se tivemos muitos padres — da Igreja católica — participando da vida política desde o processo independentista, a ação era com base em uma determinada visão de mundo no universo ideológico laico e não como representantes de alguma confissão religiosa.
O que assistimos nos últimos vinte anos é um processo novo e que se confronta com os princípios laicos da Constituição de 1988. Porém, os partidos políticos e seus candidatos resolveram deixar de lado a Carta Magna e se adaptar à selvageria eleitoral.
O que importa é ser eleito mesmo à custa de tenebrosas transações, pouco republicanas e que minam as bases do Estado democrático de Direito.
O inusual e claramente anticonstitucional voto de cabresto religioso não passa — e nem deveria passar — pelas mediações do sagrado.
(…)
Há um oportunismo dos dois campos, o religioso e o político. O pastor tem no político um sócio na negociação do voto. E o fiel é instrumento de venda e cooptação, retirando a independência do voto.
Afinal, cabe ao pastor definir a sua vontade de eleitor❓
Esta transferência é criminosa, inaceitável, em uma república democrática.
E não cabe o falso argumento de perseguição religiosa. A questão é o uso da religião para sequestrar um dos princípios do Estado democrático de Direito.
Artigo original por Marcos Antônio Villa.
Em Revista Isto é (edição 2707 8/12/2021)
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