A aliança entre Lula-Alckmin parecia à primeira vista ser mais um balão de ensaio em meio a temporada de especulações eleitorais. É verdade que em alguns momentos a ideia de uma união entre petistas e tucanos parecia ser o sonho ideal de moderação partidária sob inspiração da hoje combalida concertação chilena ou do sistema político alemão, construído para produzir coalizões entre forças partidárias rivais.
A radicalização da elite política no País parecia ter enterrado um diálogo mais produtivo entre atores que organizaram o sistema partidário pós-Constituição de 1988. O tempo, contudo, parece alimentar a composição entre antigos rivais. O encontro público entre Lula e Alckmin serve como ponto de partida para o “fazer política”, testando discurso e poder de mobilização de uma chapa que, no limite, aumenta a probabilidade de vitória do petista no primeiro turno. A eventual confirmação do acordo mostra como os partidos constroem suas estratégias eleitorais, a partir do seu posicionamento em relação ao governo federal. O bolsonarismo é o emprestador de última instância da legitimidade desse acordo, relativizando a leitura de oportunismo eleitoral.
Sob a ótica petista, a potencial parceria entre Lula e Alckmin parece ir ao encontro dos interesses da legenda em 2022. A saída do ex-governador da disputa para o governo de São Paulo facilita a entrada do PT no maior colégio eleitoral, aumentando as chances de uma bancada mais robusta na próxima legislatura. O acordo com Alckmin não apenas retira um rival, mas pode servir como ferramenta para a rejeição à legenda, em um dos berços da onda antipetista alimentada pela Lava Jato.
O principal prêmio do petismo é a corrida presidencial. Alckmin poderá servir de interlocutor com grupos políticos e sociais mais distantes do partido, contribuindo para o equilíbrio eleitoral que levou o PT ao poder; equilíbrio na região Sudeste e ampla vantagem do Nordeste. A ponte com Alckmin serve ainda como retrato de um Lula pragmático, amenizando a percepção entre a elite econômica de um Lula revanchista. Se em 2002 a chapa entre Lula e José Alencar simbolizava a união entre o capital e o trabalho, na versão atual a ponte com a centro-direita visa aproximação com o conservadorismo com investimento no maior colégio eleitoral do País.
O bolsonarismo (com uma contribuição não desprezível do governador João Doria) indiretamente alimentou a ponte entre os rivais. A elevada rejeição ao governo e a agenda de conflito institucional e pouco apreço à pluralidade oferecem base de legitimidade, aliviando o custo reputacional do encontro.
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