Bolsonaro não quer arcar com o ônus moral da demissão de Moro e recorre a um morde-e-assopra que não condiz com as responsabilidades de seu posto nem com o prestígio do ministro da Justiça
No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro recebeu na página oficial de presidente da República o seguinte apelo de um internauta identificado como Bunny: “Jair Messias Bolsonaro, cuide bem do ministro Moro, você sabe que votamos em um governo composto por você, ele e o Paulo Guedes”. E respondeu: “Com todo o respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha, até que, como juiz, não poderia”.
O diálogo publicado no Blog do Nêumanne na segunda-feira 26 de agosto de 2019 mostra mais uma das várias farpas que o chefe do governo tem disparado no ministro da Justiça e da Segurança Pública, com a qual ele parece oferecer corda para o ex-juiz se enforcar sem querer se dar ao trabalho sequer de lhe pôr o laço no pescoço.
Concordo plenamente como jornalista quando afirma: “O candidato do PSL governa para o núcleo familiar e alguns prosélitos dos perfis sociais do próprio (ou do “mesmo”, em linguagem de elevador, como prefere). Muitos dos quais não passam de robôs controlados pelo desorientado vereador do Rio de Janeiro, seu filho chamado de 02, Carlos Bolsonaro. Moro, que não pertence a essa exclusivíssima grei, é tratado como se não desafeto, no mínimo, alheio a ela.”
Sérgio Moro caiu na mentira de Bolsonaro ao acreditar na promessa de que lhe daria carta branca no combate ao crime organizado e à corrupção. E também para os fãs de Moro acenou com sua possível indicação para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) a ser preenchida em 15 meses com a aposentadoria do decano Celso de Mello.
Ao aceitar o convite e acreditar nas promessas de Bolsonaro, o implacável carrasco dos ladravazes do esquema montado pelos petistas, seus aliados, não tomou o devido cuidado de se informar sobre eventuais deslizes do clã do pretendente a chefe. Errou feio e agora paga pelo deslize.
Dentre eles, o dinheiro de Fabrício na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Será que Moro acreditou na desculpa dada pelo chefe do tal empréstimo ao amigo?
É, pode ser. Mas…
Moro é sim um herói nacional, mas ao que tudo indica, a tão sonhado vaga no STF será mesmo do “terrivelmente evangélico”, advogado-geral da União, André Mendonça.
Será que o chefe dos chefes pensa apenas em forçar Moro a pedir demissão quando põe o Coaf para girar na roda-gigante da especulação, passando do Ministério da Fazenda para o da Justiça, deste para o da Economia e agora para o Banco Central?
A ameaça de demissão do aliado de Moro, o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, será mais um aperto?
O afago a Davi Alcolumbre na nomeação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ignorando o ministro, seria mais uma tentativa de pressão?
Todas essas perguntas eu já sei a resposta, mas só que nada é mais importante a saber do que o que diabo este faz no meio das pilantragens do clã Bolsonaro.
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