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segunda-feira, abril 14, 2025

A confusão entre o que é público e o que é privado.

Em nosso país é assim: o privado se mistura com o público e, logo, logo, surge um político novo

O projeto Páscoa no Parque, projetado e financiado pelo governo do Estado do Maranhão surge como tendo sido Idealizado pela primeira-dama, Larissa Brandão. O projeto pretende oferecer um espaço seguro e divertido para as famílias aproveitarem o feriado de Páscoa e a cerimônia de abertura aconteceu neste sábado (12) no Parque do Rangedor, em São Luís, com a presença do arcebispo metropolitano de São Luís, Dom Gilberto Pastana, e do governador Carlos Brandão. No dia 12 de abril também aconteceu a apresentação do padre Antônio Maria, totalmente gratuita.

“Estamos muito felizes em realizar um evento que une fé, cultura e momentos em família. A Páscoa é uma data especial para todos os cristãos, e poder celebrá-la com inclusão e alegria é um gesto de carinho com o povo maranhense”, destacou Larissa Brandão.
Foto: Reprodução das redes sociais

Mas qual é o problema? 

A falsa neutralidade da “primeira-dama” e o perigoso cruzamento entre público e privado

A recente divulgação do projeto Páscoa no Parque, idealizado pela primeira-dama do Maranhão, Larissa Brandão, traz à tona uma antiga e incômoda prática na política brasileira: a confusão entre o que é público e o que é privado. O evento, embora louvável em sua proposta de lazer e celebração, carrega uma marca preocupante — a utilização de recursos públicos para promover a imagem de uma figura que, institucionalmente, não possui qualquer cargo oficial no Estado.

Larissa Brandão, assim como outras primeiras-damas ao longo da história política recente do Brasil, representa um arquétipo que deveria ser meramente simbólico, mas que, na prática, assume protagonismo, influência e visibilidade incompatíveis com o princípio da impessoalidade da administração pública. A Constituição é clara: os atos da máquina estatal devem ser neutros, despersonalizados e voltados ao interesse coletivo. Promover figuras privadas com dinheiro público fere esse princípio e perpetua uma lógica clientelista, onde o carisma e os laços familiares muitas vezes falam mais alto que a competência técnica.

Esse fenômeno não é isolado. Vimos algo semelhante no cenário nacional tanto com Michelle Bolsonaro quanto com Janja Lula da Silva. A primeira foi alçada ao posto de porta-voz de pautas religiosas e sociais, sendo constantemente promovida por canais oficiais do governo anterior. Já Janja assumiu um papel ainda mais direto: participando de decisões de governo, elaborando pautas culturais e ganhando espaço de destaque na gestão atual. Ambas são, evidentemente, livres para expressarem suas opiniões — o problema é quando essa atuação ultrapassa os limites da influência pessoal e passa a interferir ou conduzir ações estatais, com holofotes custeados pelo erário.

É nesse ponto que devemos refletir sobre o nepotismo em sentido amplo. Não apenas aquele que nomeia diretamente parentes em cargos, o que é ilegal, mas aquele que se manifesta de forma mais sutil: pela visibilidade indevida, pela ocupação de espaços institucionais sem mandato, e pela perpetuação de nomes e famílias no comando do poder. Quando esposas, filhos e irmãos de políticos tornam-se protagonistas de ações públicas sem o devido respaldo das urnas, estamos diante de um tipo moderno de monarquia disfarçada de república.

Esse cenário se agrava com a naturalização da política do pão e circo. Projetos com apelo popular e festivo são distribuídos como forma de amenizar a ausência de políticas públicas estruturais, funcionando como anestésicos temporários para os graves problemas sociais. E, para completar, muitos desses eventos se tornam vitrines para a autopromoção de figuras políticas e seus familiares — como se governar fosse um reality show e não uma missão pública.

O povo brasileiro precisa amadurecer politicamente para romper esse ciclo. É urgente que compreendamos que cargos públicos existem para servir à população, e não para sustentar dinastias. A crítica não deve ser à pessoa da primeira-dama ou de qualquer figura em particular, mas sim ao sistema que permite — e até aplaude — esse tipo de apropriação simbólica do poder. 

Enquanto continuarmos confundindo carinho com competência, carisma com autoridade, e família com Estado, continuaremos presos ao passado, como súditos de uma monarquia velada, e não como cidadãos de uma república democrática.

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