
Mais dinheiro para a Defesa? Agora não!
A recente entrevista do general Richard Nunes, publicada no Estadão, reacendeu um debate antigo, mas necessário: o orçamento das Forças Armadas. O general defende um aumento significativo nas verbas da Defesa, sob o argumento de que o Brasil precisa estar preparado para ameaças contemporâneas e manter sua soberania. Mas as perguntas que se impõem é:
Quais ameaças?
E com que prioridades?
O Brasil não enfrenta — e nem parece prestes a enfrentar — uma guerra convencional.
Nosso maior desafio na área de segurança está dentro das próprias fronteiras: o avanço do narcotráfico nas regiões de fronteira, o crime organizado que se infiltra nas grandes cidades e, mais recentemente, a própria tentativa de subversão da ordem democrática, com participação de militares da ativa e da reserva.
É justamente esse último ponto que torna a proposta de aumento do orçamento da Defesa tão indigesta.
- Como discutir mais dinheiro para as Forças Armadas enquanto generais estão sendo julgados por tentativa de golpe?
- Como reforçar a estrutura militar num momento em que parte dessa estrutura se revelou vulnerável — ou conivente — com ataques ao Estado democrático de direito?
Falta ao discurso do general Richard Nunes o senso de tempo e de prioridade. Em vez de pedir mais recursos, seria mais adequado que os comandantes militares se dedicassem a reconstruir a confiança da sociedade civil nas instituições armadas. O Exército precisa ser visto novamente como uma força de Estado, e não como instrumento de projetos políticos ou ideológicos.
Além disso, os reais desafios de segurança do Brasil hoje não estão nos céus ou nos mares, mas nas matas e nos rios que fazem divisa com países produtores de drogas e armas. A guerra que travamos é contra o tráfico, contra as milícias, contra o crime organizado — e não há indícios de que os recursos da Defesa estejam sendo empregados com eficiência nesses frontes.
Portanto, antes de pedir mais, seria bom mostrar resultados com o que já se tem. O Brasil precisa de investimentos — sim — mas nas áreas que podem transformar o futuro da população: educação, saúde, inovação, infraestrutura e segurança pública.
Aumentar os gastos com a Defesa agora, sem uma revisão profunda do papel das Forças Armadas e sem autocrítica, seria premiar quem ainda deve muitas explicações à democracia.
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