Ilustração: dedMazay / Shutterstock.com |
Na cafeteria no térreo do edifício com varandas envidraçadas, as mesas estavam quase todas ocupadas no fim da tarde da última quinta-feira.
Entre os frequentadores, um jovem de colete esportivo e camisa social participa de uma reunião online.
Vitrines de um mercado imobiliário ascendente, novos prédios comerciais e residenciais substituíram sobrados e galpões no Tatuapé, atraindo para o bairro da zona leste de São Paulo um tipo de público que dá ao lugar ares de Faria Lima.
Um cenário de transformação urbana que também atraiu integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) interessados em comprar imóveis que chegam a ultrapassar R$ 5 milhões para lavar dinheiro do tráfico de drogas, segundo o termo de delação ao Ministério Público Estadual de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach.
Assassinado no dia 8 de novembro no aeroporto internacional de Guarulhos, Gritzbach tirava proveito do seu trânsito no ramo para facilitar o registro em nomes de laranjas de bens de líderes da organização criminosa e de outros traficantes.
Nas 978 páginas de documentos às quais a Folha teve acesso, Gritzbach diz ter conhecimento de mais de dez imóveis negociados para favorecer a ocultação do lucro de atividades ilícitas.
A preferência era por empreendimentos da Porte Engenharia e Urbanismo, construtora protagonista da transformação do bairro, na qual o delator trabalhou de 2014 a 2018.
A moda em São Paulo é dizer que tudo é do PCC, mas no Maranhão as construtoras são de prefeitos, deputados e agiotas, com seus laranjas 🍊.
Gritzbach (que foi executado no aeroporto de Guarulhos) delatou suposta venda de uma laje no mesmo imóvel, por R$ 15 milhões, para o laranja de Cara Preta. O pagamento em dinheiro vivo teria ocorrido na sede da construtora. Aqui, a corrupção é tão comum que nem mesmo o Ministério Público se incomoda mais com a roubalheira. Desvia-se milhões e milhões nos 217 municípios do Estado do Maranhão e ninguém aqui fala de crime organizado
A despeito de a zona leste de São Paulo ser um reduto do PCC, é comum que o crime escolha mercados de luxo para lavar dinheiro, explica Raquel Scalcon, professora de direito penal da FGV.
Já na terra das palmeiras, o Maranhão é o mercado preferido das emendas pix e a agiotagem é o banco credor dessa pilantragem, com a compra de fazendas, construtoras e postos de gasolina ⛽️ como vitrine do crime.
Em geral, bens são comprados abaixo do preço de mercado e a diferença é paga de forma a dificultar o rastreamento, normalmente em espécie. Há, porém, situações em que a compra a preço de mercado em nome de terceiros pode servir apenas para camuflar o patrimônio de criminosos, prática que também entra na esteira da lavagem de dinheiro.
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